Rogério Costa Pereira @ 02:24

Seg, 23/08/10

Os anos de desilusões que me enchem o curriculum garantem-me o que se segue.

Minto!, que escrevi ao sol enganador da cadência do imediatismo redutor do pensar-respirar (e só não apago esta coisa pateta que acabei de garatujar porque uma coisa leva à outra e tudo ajuda ao círculo que se completa). [Agora com a emenda da alma]. Não é o meu passado de trinta e muitos anos que me assevera o que sinto. É o Zé e o fogo e a roda. Vi-o duas vezes, ao Zé. De ambas já o sabia doutras vidas. Andámos de caleche juntos, combatemos os romanos, escolhemos cavernas para pernoitar. Inventámos a roda. Olhámos com medo e admiração e surpresa aquela coisa a que hoje chamam fogo. O Ega da Isabel é também o meu. Quando o vi pela primeira vez, já o tinha visto vezes tantas. O primeiro encontro não foi um cumprimento entre desconhecidos, foi um “por onde raio tens andado, pá?, porque porra me obrigas à saudade antes de o rei a ter mandado inventar?”

Há mil anos que não o via. Mil anos foi a semana passada, concedo, mas isso é fraca desculpa. O meu filho e a minha mulher queixam-se do mesmo. Tens de ter mais atenção ao relógio.

Quando o big bang se desempatou, já o Zé tinha sido decidido. Espécie de ponto prévio da ordem de trabalhos universal. Antes da lua e do sol, e para que a coisa fizesse sentido, urgia haver o Zé - e terá havido alguns (poucos demais ou o mundo teria mais mar). Faltas-nos a todos, espécie de vampiro ao contrário, que dá em vez de tirar.

Tudo isto, Zé, para te dizer que nos deixaste aos três mais ricos, estes três que somos só um (a ditadura das contas não me ensinou a dizer de forma mais verdadeira).

Termino com saudades e com a certeza que não nos obrigarás a mais mil anos de rodas que não rodam.

Este post é dedicado ao Francisco e à Nina e à Joana e aos outros nossos sangues, à Isabel, ao João Paulo e à Esmeralda, ao Davide e à Alice, ao Vladimir, ao Carlos e ao João Bernardo.

E ao Zé.